segunda-feira, 17 de outubro de 2016

CHEIRO DE AMARELO



CHEIRO DE AMARELO
15 • 10 • 2016 - Por Palmira Margarida

Dando continuidade à série Os Cheiros das Cores, hoje vou contar um pouco sobre como sinto a cor amarela. Apesar de eu nomear minha sinestesia como olfativa, tenho observado que essa condição não se faz apenas em um sentido, mas acaba por abarcar todos os outros, como se eles se entrelaçassem, provocando uma certa bagunça ou imposições na forma como sinto o mundo. Não uso muito a expressão “ver o mundo’’, pois, de fato, sinto tudo mais do que vejo, com os sentidos e junto ao meu sistema entérico, que não para de gritar, sendo mobilizado 24 horas por meio da sinestesia.

A primeira cor da série foi violeta, e só não iniciei com amarelo porque, na semana passada, estava em um momento muito violeta da vida. Amarelo é a minha cor preferida, é o cheiro que me traz calma, esperança, me acolhe e afaga. Tem um cheiro gostoso, fofo, como se fosse um bolinho bem rechonchudo com sons ondulados e reconfortantes.

Hoje mesmo, eu passava pela margem do rio Pinheiros, em São Paulo, com o seu cheiro nada agradável (coitado do rio, tá aí um curso fluvial triste!), quando passou por mim um carro de cor escandalosamente amarela. Pronto! Tudo ficou bom, e as desagradáveis sensações trazidas pelo cheiro do rio Pinheiros logo foram dissipadas pelo fofo do amarelo. Fofo, aqui, não com sentido de “fofinho”, mas de fofo mesmo: imagine um sofá superfofo e grande, todo amarelo, revestido de veludo amarelo. Nossa, tá sentindo fome? Minha boca saliva só de imaginar.

O cheiro de amarelo, apesar de ser arredondado, não tem um som muito circular. É uma cor louca, pois se move em circulares, o som tem uns agudos e o cheiro é fofo, doce e cítrico ao mesmo tempo. É muita informação. Porém, harmônico, amigo e amoroso, é magnânimo por conhecer muitas coisas e se fazer de muitas formas, não é à toa que era a cor do imperador da China.

Mas não é sempre que consigo sentir o aroma de amarelo, é necessário que ele esteja em alguns tipos de texturas e formas específicas e seria impossível, agora, catalogar. Existem milhares de formas, densidades e consistências, certo? Apesar dessa infinidade de possíveis sensações que o mundo permite, sei que textura fofas, profundas e brilhosas me causam mais sensações olfativas e auditivas sobre o amarelo.

Eu nunca tive o prazer de deitar-me em um sofá fofo de veludo amarelo, mas o dia que isso acontecer, será louco, e imagino muito esse momento maravilhoso! Quem sabe um dia? Sei que vou querer comer o sofá, mas fiquem tranquilos, eu conheço os limites das coisas! E quindim? Há coisa mais linda, cheirosa, perfeita que um quindim bem amarelinho, com aquela textura gelatinosa e divinamente amarela por cima? Comer um quindim desses é um momento sublime, o gosto do doce em si não me é tão caro, mas vale a mordida pelas maravilhosas sensações evocadas pelo amarelo, essa cor que fala em várias línguas e abraça todo mundo!

FONTE: Vertigem

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